Como temos consumido e produzido literatura no Brasil? Qual a relação entre o assim chamado
“ritmo de vida” - cheio de urgências, demandas imediatas e recursos tecnológicos - e seu mais
marcante aspecto: a ansiedade?
Rubem Alves define agenda como aquele bloco de papel no qual anotamos os compromissos aos
quais não queremos ir, porque aos que queremos, esses, sabemos de cor (de coração). Terá a
agenda moderna deixado espaço para a memória literária? Ou estaremos experimentando um
processo de degradação de nossa memória afetiva relativamente às nossas experiências literárias?
O fenômeno é observável na Literatura Brasileira moderna, mas também em outros campos. De
modo geral o inesquecível perdeu espaço: A primeira bicicleta, o cheiro do videogame ao ser
desembrulhado, o toca-discos da família, aquela música, aquele livro. Lembranças que
acompanharão as gerações que as vivenciaram, mas que, foram substituídas pela ansiedade do que
está “por vir”. A velocidade tornou-se inimiga do afeto. Como sentir saudade do obsoleto? Do
ultrapassado? Daquilo que todos já possuem?
A literatura contemporânea é fast, como a comida da lanchonete e as receitas para emagrecer,
sendo todo seu processo de consumo marcado pela ansiedade: Em quanto tempo conseguirei
concluir este livro? Quando será lançada a continuação? E a versão cinematográfica?
A produção literária, por sua vez, segue (ou dita?) tal ritmo. A pressa é sua Musa. A pressa é
inimiga da perfeição. E da memória também. Eis o “gênero” literário mais marcante em nossa era:
a literatura amnésica. Feita para ser esquecida.